terça-feira, outubro 24, 2006

Primo do interior

Ia pro interior na maior má vontade. Todo mundo indo pra praia ou pros "antros de hippies perdidos no tempo" e eu indo pra Águas de Lindóia, Poços de Calda e o que o valha na companhia de tias pelancudas e carolas.

Depois de um tempo desisti de lutar. Entendi que a única forma de derrubar uma estrutura é estar... no centro dela! Para colocar em cada um de seus pilares toneladas de explosivos.

Passei a frequentar a igreja. Sentava do lado do primo. Comecei a perceber que não era só eu que não prestava atenção naquela bosta toda. Na falta de uma Playboy, a criatura suava frio olhando as tetas de Maria. Sim, aquela, a mãe de cristo.

Comecei a usar roupas cada vez mais recatadas. Porém... ricas em transparências, transpassados e fendas. Na igreja sentava ao lado do primo. As orações eram pretexto para pegar nas mãos da criatura.

"Daqui não saio enquanto não tornar esse aprendiz de coroinha em um fodedor de marca maior..."

E assim foi.

Hoje? Sei dele não. A última notícia é que casou com uma minhoca da terra, tem cria com mais duas ou três da região e se gaba que comeu a prima carioca... Tá! Não sabia nem colocar camisinha o mané.

Bom, o que importa é que, como boa cristã, através do priminho caipira fiz minha boa ação nesta vidinha vagaba, facilitando as palavras do senhor: "crescei-vos e multiplicai-vos"!

terça-feira, outubro 17, 2006

Ponto de vista

Seus olhos me encaram como quem vê um filme que já acabou. E eu achando sempre que ainda estamos no trailer.

sábado, outubro 14, 2006

O Amor e a Morte lenta

Sabe o que é ver o amor morrendo? E acompanhar essa morte do lado do leito, segurando sua mão? Você e o Outro, se despedindo daquela companheiro que foi tão esperado, tão desejado...
E de repente, não tem mais o que. Nem porquê. É aquele sentimento gostoso, reconfortante, que a gente crê eterno, se apagando lentamente, como um por do sol melancólico em dia nublado.

E quando ele se for de vez? Fazer o quê com esse vazio?

Tradição

Minha avó sempre disse: o único tesouro que você tem, minha filha, é esse entre as suas pernas. Então negocie bem. Por que nascer pobre é destino. Continuar pobre... é burrice.

Faça um bom casamento, conquiste um belo sobrenome. Dignidade é ter o que comer. O resto... rá! Falácias...

sexta-feira, outubro 13, 2006

Cristais Swarovski

Axila, virilha e meia-perna. Completa - não a meia-perna, a virilha. Completa e cavada (tem idéia do que é isso? de como dói?). Hidratação e escova. Pé e mão. No podólogo, naturalmente. Limpeza de pele. Lingerie da nova linha da Sauvage, com bordados à mão, cristais Swarovski e soutien meia-taça. Nos pés um Manolo Blahnik al-tés-si-mo! Champagne na geladeira.

E ele não veio.

quinta-feira, outubro 12, 2006

INOCÊNCIA

Não suportava mais assistir missas. Os seios de Maria, Mãe de Jesus, chamavam minha atenção de adolescente. Dava para ver o início e o fim daquela pequena cidade do interior de Minas Gerais. E de muito longe, uma prima veio morar em minha casa. Adianto que nunca fui punck. Nunca mudei o corte do meu cabelo. Sempre achei, e ainda acho, que estou atrapalhando. E nunca grafitei muros. Mas minha alma é cravada, tatuada por histórias dadaístas.
E essa prima me mostrou a maior e mais bela oração: o sexo. Seus peitos enormes, seu umbigo, sua língua. Ela me seduziu lentamente. E me resgatou das mãos do Cão. Os peitos dela substituiram os de Maria de Nazaré do meu imaginário. Seus sussurros. E algo que me deixava feliz: "me chama de puta, priminho do pau grande". Alguns meses depois ela foi embora. Para bem longe. Anos mais tarde estudei o maior teólogo católico: o ex-puto Santo Agostinho. E entendi perfeitamente os motivos de Agostinho defender a necessidade da existências das putas.
Até namorei uma. Uma linda putinha. O quarto dela era povoado de fotografias de artistas, galãs de novela. Ouvia música brega. Não sabia nada de Filosofia, de merda alguma. Apenas me amava. Eu a apresentei para minha família, numa noite de Natal. No outro dia, tive que ir embora da minha casa. Morei no apartamento dela durante 24 dias. Fui embora. Nunca mais a vi. Essas foram as duas grandes bucetas da minha vida. Belo contexto para quem ia trombar com Bukowski e Henry Miller na biblioteca. (Zé Pereira)

terça-feira, outubro 10, 2006

LOUCO DE ESTIMAÇÃO

Ele morreu para o mundo. Não, não converteu-se ao protestantismo, ao neopentecostalismo. E seu corpo não está em uma gaveta do IML. Ele está calado, acabrunhado. Não fala com ninguém.
Quando jovem, era convidado a participar das rodas de debates. Era o louco mais querido da cidade. Uma turma infindável de filósofos eram sempre citados em suas falas. No início trepou com madames. Ele sabia ouvir, fazer poemas. Era um picareta. Descobriu que a língua era qualquer clitóris, contrariando Caetano que vivia dizendo que "minha pátria é minha língua". E ele até que trepava bem.
Mas sonhava. Queria fazer ou participar de revoluções armadas. Achou até que daria para erguer uma sociedade baseada em Reicth. Lutou, desafiou. Era o louco de estimação dos meninos que frequentavam grandes universidades federais.
Com o passar do tempo, os termos sempre vinham acompanhados de um tal "pós". Tudo era globalização. E o louco de estimação, logo ele, fora abandonado. Pelas bucetas, pelas rodas de intelecutais e até mesmo pelos revolucionários. Não se via mais a presença dele. Todos corriam dele. Tinham vergonha de apresentá-lo às meninhas virgens que iam estudar Ciências Sociais, Psicologia, Filosofia e afins, e virariam comunistinhas dentro dos muros dos campis. Era ele quem introduzia as meninas no ambiente arraigado de senso-crítico. Elas ficavam com as bucetinhas molhadinhas. E depois eram comidas. À noite, era possivel escutar tapinhas nas bundas. A maioria dessas pessoas trabalham hoje em transnacionais, falam que a democracia é o melhor remédio para a humanidade. Algumas e alguns até levam seus filhos à pia batismal católica do Papa Bento XVI. E foram putos e putinhas.
Mas o louco de estimação bebe todos os dias no mesmo bar. Calado, de copo em copo, lê feito um usurpador de livros. Calado. Sempre.

Eu quero é dar

Ele só quer me comer. E eu dou. Dou mesmo, quer saber? Vou ficar regulando por que? pra que? Quero é cafuné e beijinho na boca.
E daí que é casado, velho e esfolado? Eu gosto.
Ele maltrata, ele vai, ele vem. E eu... cedo, cedo, cedo.

José Pereira e Maria da Silva

Maria somos todas nós, Maria não é ninguém. Não temos nada em comum, somos a cara uma da outra. E a sua também. Não podemos compartilhar nossa histórias, não temos pontos de contato.Maria não sou eu, não é você, não é ela. E somos todas Maria. Depende do dia.

José Pereira é um tipo de cidadão que encaixa bem no slogam: “Escuta, Zé Ninguém”. É assinante de 4 jornais e acredita que sempre existem pessoas da mais alta esfera do poder conspirando. Não cumprimenta ninguém. Mora num apartamento comprado na década de 70. Usa uma velha máquina de dactilografia porque acha que fumar e escrever é um ritual dos gênios. Quando o vento bate nos seus cabelos, em dias frios, se acha Camus. Ninguém deixa de achar que José Pereira é apenas um louco, um zero à esquerda. É torcedor do Botafogo só porque ouviu dizer que é o time da malandragem. Nunca foi assaltado. Acredita que o Zé Pilintra o protege. Já amou muitas mulheres. Nenhuma o ama mais. Pega no sono sonhando que está percorrendo mundo.
 
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