terça-feira, outubro 10, 2006

LOUCO DE ESTIMAÇÃO

Ele morreu para o mundo. Não, não converteu-se ao protestantismo, ao neopentecostalismo. E seu corpo não está em uma gaveta do IML. Ele está calado, acabrunhado. Não fala com ninguém.
Quando jovem, era convidado a participar das rodas de debates. Era o louco mais querido da cidade. Uma turma infindável de filósofos eram sempre citados em suas falas. No início trepou com madames. Ele sabia ouvir, fazer poemas. Era um picareta. Descobriu que a língua era qualquer clitóris, contrariando Caetano que vivia dizendo que "minha pátria é minha língua". E ele até que trepava bem.
Mas sonhava. Queria fazer ou participar de revoluções armadas. Achou até que daria para erguer uma sociedade baseada em Reicth. Lutou, desafiou. Era o louco de estimação dos meninos que frequentavam grandes universidades federais.
Com o passar do tempo, os termos sempre vinham acompanhados de um tal "pós". Tudo era globalização. E o louco de estimação, logo ele, fora abandonado. Pelas bucetas, pelas rodas de intelecutais e até mesmo pelos revolucionários. Não se via mais a presença dele. Todos corriam dele. Tinham vergonha de apresentá-lo às meninhas virgens que iam estudar Ciências Sociais, Psicologia, Filosofia e afins, e virariam comunistinhas dentro dos muros dos campis. Era ele quem introduzia as meninas no ambiente arraigado de senso-crítico. Elas ficavam com as bucetinhas molhadinhas. E depois eram comidas. À noite, era possivel escutar tapinhas nas bundas. A maioria dessas pessoas trabalham hoje em transnacionais, falam que a democracia é o melhor remédio para a humanidade. Algumas e alguns até levam seus filhos à pia batismal católica do Papa Bento XVI. E foram putos e putinhas.
Mas o louco de estimação bebe todos os dias no mesmo bar. Calado, de copo em copo, lê feito um usurpador de livros. Calado. Sempre.

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